quarta-feira, 23 de maio de 2007

Poluição Sonora

Existe, na natureza, um equilíbrio biológico entre todos os seres vivos. Neste sistema em equilíbrio os organismos produzem substâncias que são úteis para outros organismos e assim sucessivamente. A poluição vai existir toda vez que resíduos (sólidos, líquidos ou gasosos) produzidos por microorganismos, ou lançados pelo homem na natureza, forem superior à capacidade de absorção do meio ambiente, provocando alterações na sobrevivência das espécies. A poluição pode ser entendida, ainda, como qualquer alteração do equilíbrio ecológico existente.
A poluição é essencialmente produzida pelo homem e está diretamente relacionada com os processos de industrialização e a conseqüente urbanização da humanidade. Esses são os dois fatores contemporâneos que podem explicar claramente os atuais índices de poluição. Os agentes poluentes são os mais variáveis possíveis e são capazes de alterar a água, o solo, o ar, etc.
Poluição, é portanto, uma agressão à natureza, ao meio ambiente em que o homem vive. Os efeitos da poluição são hoje tão amplos que já existem inúmeras organizações de defesa do meio ambiente.

Poluição Sonora
Poluição Sonora é qualquer alteração das propriedades físicas do meio ambiente causada por puro ou conjugação de sons, admitíveis ou não, que direta ou indiretamente seja nociva a saúde, segurança e ao bem. O som é a parte fundamental das atividades dos seres vivos e dos elementos da natureza.
Cada um tem um significado específico conforme as espécies de seres vivos que os emitem ou que conseguem percebê-los. Os seres humanos, além dos sons que produzem para se comunicar e se relacionar, como as palmas, voz, assobios e passos, também produzem outros tipos de sons, decorrentes de sua ação de transformação dos elementos naturais. estar da coletividade.Somente depois que o homem se tornou gregário e desenvolveu suas qualidades criadoras, é que o ruído se transformou de aliado, nos primórdios da Civilização, em inimigo, nos últimos tempos.
O tempo foi passando, centenas e centenas de anos, até que no afã do prosseguir, melhorando as condições de vida do Ser Humano, a indústria em desenvolvimento constante, trouxe consigo o ruído intensivo e nocivo, intoxicando-nos aos poucos, lesando-nos lenta, constante e irreversivelmente.
Há cerca de 2500 anos a humanidade conhece os efeitos prejudiciais do ruído à saúde. Existem textos relatando a surdez dos moradores que viviam próximos às cataratas do Rio Nilo, no antigo Egito. O desenvolvimento da indústria e o surgimento dos grandes centros urbanos acabou com o silêncio de boa parte do planeta.
O primeiro decreto que se conhece para a proteção humana contra o ruído no Brasil, é de 6 de maio de 1824, no qual se proíba o "ruído permanente e abusivo da chiadeira dos carros dentro da cidade", estabelecendo multas que iam de 8 mil réis a 10 dias de cadeia, que se transformavam em 50 açoites, quando o infrator era escravo.
A poluição sonora difere bastante da poluição do ar e da água quanto aos seguintes aspectos:
a) O ruído é produzido em toda parte e, portanto, não é fácil controla-lo na fonte como ocorre na poluição do ar e da água;
b) Embora o ruído produza efeitos cumulativos no organismo, do mesmo modo que outras modalidades de poluição, diferencia-se por não deixar resíduo no ambiente tão logo seja interrompido;
c) Diferindo da poluição do ar e da água, o ruído é apenas percebido nas proximidades da fonte;
d) Não há interesse maior pelo ruído nem motivação para combate-lo; o povo é mais capaz de reclamar e exigir ação política acerca da poluição do ar e da água do que a respeito do ruído;
e) O ruído, ao que parece, não tem mais efeitos genéricos, como acontece com certas formas de poluição do ar e da água, a exemplo da poluição radioativa. Entretanto o incomodo, a frustração, a agressão ao aparelho auditivo e o cansaço geral causados pela poluição sonora podem afetar as futuras gerações.

Conceito
O som é um fenômeno físico ondulatório periódico, resultante de variações da pressão num meio elástico que se sucedem com regularidade.
O som pode ser representado por uma série de compressões e rarefações do meio em que se propaga, a partir da fonte sonora. Não há deslocamento permanente de moléculas, ou seja, não há transferência de matéria, apenas de energia.
Uma boa analogia, é a de uma rolha flutuando em um tanque de água. As ondas da superfície da água se propagam e a rolha apenas desce, sem ser levada pelas ondas.
Ruído é "qualquer sensação sonora indesejável". Há quem vá além, que considera o ruído como "um som indesejável que invade nosso ambiente, ameaçando nossa saúde, produtividade, conforto e bem estar". A ação perturbadora do som depende:
· De suas características, como intensidade e duração;
· Da sensibilidade auditiva, variável de pessoa para pessoa;
· Da necessidade de concentração, como estudar;
· Da fonte causadora, que pode ser atrativa, como uma discoteca.

Fontes de Ruido

Ruído nas Ruas
O trânsito é o grande causador do ruído na vida das grandes cidades. As características dos veículos barulhentos são o escapamento furado ou enferrujado, as alterações no silencioso ou no cano de descarga, as alterações no motor e os maus hábitos ao dirigir - acelerações e freadas bruscas e o uso excessivo de buzina.
Nas principais ruas da cidade de São Paulo, os níveis de ruído atingem de 88 a 104 decibéis. Isso explica por que os motoristas profissionais são o principal alvo de surdez adquirida. Nas áreas residenciais, os níveis de ruído variam de 60 a 63 decibéis - acima dos 55 decibéis estabelecidos como limite pela Lei Municipal de Silêncio.
Ruído nas Habitações
Condicionadores de ar, batedeiras, liqüidificadores, enceradeiras, aspiradores, maquinas de lavar, geladeiras, aparelhos de som e de massagem, televisores, secadores de cabelo e tantos outros eletrodomésticos que podem estar presentes numa mesma residência, funcionando simultaneamente e somando seus indesejáveis decibéis.
Ruído nas Indústrias
É dos mais importantes o papel da indústria na poluição sonora. Depois da primeira grande guerra, foi que se verificou o aumento das doenças profissionais, notadamente a surdez, além do aparecimento de outras moléstias, devidas ao desenvolvimento espantoso trazido pelo surto industrial.
Em alguns países europeus, como a Suécia e a Alemanha, onde os dados estatísticos retratam fielmente a realidade, é impressionante o numero de operários que, nas indústrias, devido ao ruído, vêm sofrendo perda de audição.
Visando a proteção dos trabalhadores das fábricas, em 1977 os Estados Unidos estabeleciam o ruído máximo de 90 dB para a duração diária de 8 horas. Verificou-se com a adoção desse limite, um quinto dos operários ficava sujeito a deficiências auditivas. Por isso a Holanda e outros países baixaram o limite para 80 dB.
Ruído dos Aviões
A partida e a chegada de aviões a jato são acompanhadas de ruídos de grande intensidade que perturbam sobremaneira os moradores das imediações



Curiosidades
* Há muitos séculos os chineses, para enlouquecer os prisioneiros, colocavam-os em celas cujo completo silêncio somente era interrompido pelo incessante tique-taque de um relógio
* No folclore primitivo estava a crença de que o som causado pelo impacto da lança é que matava o atingido.
* Os Assírios acreditavam em divindades do qual capazes de produzir ruídos responsáveis por terremotos e tempestades.
* Há séculos o som de grande intensidade vem sendo usado como arma de guerra, a exemplo do toque das trombetas e o rufar dos tambores, para incitar os soldados a luta. Os Romanos destacavam um grupo especial de soldados cuja missão era produzir ruídos assustadores, destinados a confundir os adversários.
* A invenção dos explosivos para fins bélicos reforçou o relacionamento entre estampido e ataque, razão pela qual não foram medidos esforços visando à descoberta de sons mortíferos durante as duas grandes guerras.

Efeitos na audição do homem
A capacidade auditiva de um indivíduo pode limitar-se a 60%. Todavia, por ser ele ainda capaz de ouvir a própria voz e certos barulhos rotineiros, não se preocupa com a surdez. A perda total de audição pode acontecer se a pessoa fica sujeita diariamente, durante 8 horas seguidas, a sons com intensidade superior a 85 dB, como os registradores em discotecas fábricas de armamentos e aeroportos.
O ruído de 140 dB pode destruir totalmente o tímpano, provocando o que se denomina "estouro do tímpano".
Quando o nível de ruído atinge 100 dB pode causar o "trauma auditivo" e a conseqüente surdez. Ao nível de 120 dB, além de lesar o nervo auditivo, provocam no mínimo, zumbido constante nos ouvidos, tonturas e aumento do nervosismo.
Limites de intensidade
* Ruído com intensidade de até 55 dB não causa nenhum problema.
* Ruídos de 56 dB a 75 dB pode incomodar, embora sem causar malefícios à saúde.
* Ruídos de 76 dB a 85 dB pode afetar a saúde, e acima dos 85 dB a saúde será afetada, a depender do tempo da exposição. Uma pessoa que trabalha 8 horas por dia com ruídos de 85 dB terá, fatalmente, após 2 anos problemas auditivos.
Surdez Profissional
Sua ocorrência depende de características ligadas ao homem (hospedeiro), ao meio e ao agente (barulho). Para que ocorram casos de surdez profissional, é necessário que haja uma exposição considerável ao ruído, isto é, a exposição a níveis elevados durante um longo período, sendo dois fatores interligados.
As perdas auditivas causadas pelo barulho excessivo podem ser divididas em três tipos:
* Trauma Acústico - Embora esta denominação seja polêmica, adota-se o conceito de trauma acústico como sendo a perda auditiva de instalação repentina, causada pela perfuração do tímpano acompanhada ou não da desarticulação dos ossículos do ouvido médio, ocorrida geralmente após a exposição a barulhos de impacto, de grande intensidade (tiro, explosão, etc.) com grandes deslocamentos de ar.
* Surdez temporária - Também conhecida como mudança temporária do limiar de audição, ocorre após uma exposição a um barulho intenso, por um curto período de tempo.
* Surdez permanente - A exposição repetida dia após dia, a um barulho excessivo, pode levar o indivíduo a uma surdez permanente.
* Obs.: É importante lembrar que um fator de grande importância, em qualquer tipo de perda de audição, é a suscetibilidade individual. Indivíduos que se encontram num mesmo local ruidoso podem se comportar de maneira diferente. Alguns são extremamente sensíveis ao ruído e outros parecem não ser atingidos pelo mesmo. Deve ser considerado, que há perda natural de audição com a idade. (presbiacusia).

Efeitos na saúde
a) Reações generalizadas ao stress
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que o início do estresse auditivo se da sob exposições a 55 dB.
b) Reações físicas
Os ruídos aumentam a pressão sangüínea, o ritmo cardíaco e as contrações musculares. São capazes de interromper a digestão, as contrações do estômago, o fluxo da saliva e dos sucos gástricos. Provocam maior produção de adrenalina e outros hormônios, aumentando, no sangue, o fluxo de ácidos graxos e glicose. No que se refere ao ruído intenso e prolongado ao qual o indivíduo habitualmente se expõe, resultam mudanças fisiológicas mais duradouras até mesmo permanentes, incluindo desordens cardiovasculares, de ouvido-nariz-garganta e, em menor grau, alterações sensíveis na secreção de hormônios, nas funções gástricas, físicas e cerebrais.
Em casos de estresse crônico (permanente) nos trabalhadores, tem sido constatado efeitos psicológicos, distúrbios neurovegetativos, náuseas, cefaléias, irritabilidade, instabilidade emocional, redução da libido, ansiedade, nervosismo, hipertensão, perda de apetite, sonolência, insônia, aumento de prevalência da ulcera, distúrbios vitais, consumo de tranqüilizantes, perturbações labirínticas, fadiga, redução de produtividade, aumentos dos números de acidentes, de consultas médicas e do absenteísmo.
c) Alterações mentais e emocionais
As reações na esfera psíquica dependem das características do agente, do meio, e das condições emocionais do hospedeiro, no momento da exposição. As reações podem manifestar-se através de irritabilidade, ansiedade, excitabilidade, desconforto, medo, tensão e insônia.

Efeitos sobre o rendimento no trabalho
Tem sido observado que em certos tipos de atividades, como as de longa duração e que requerem contínua e muita atenção, um nível acima de 90 dB afeta desfavoravelmente a produtividade, bem como a qualidade do produto
Calcula-se que um indivíduo normal precisa gastar aproximadamente 20% de energia extra para realizar uma tarefa, sob efeito de um ruído perturbador intenso.

Efeitos sobre a comunicação
Um dos efeitos do barulho facilmente notados é sua influência sobre as comunicação oral.
O barulho intenso provoca o mascaramento da voz. Este tipo de interferência atrapalha a execução ou o entendimento de ordens verbais, a emissão de avisos de alerta ou perigo e pode ser causa indireta de acidentes.
Para acontecer que um operário não entenda bem as instruções essenciais para o funcionamento adequado de certo equipamento e, em conseqüência sofra um acidente. Pode também ocorrer o caso de impossibilidade de avisar uma pessoa prestes a se acidentar. Em locais com muito ruído, há muitas vezes, o problema de interferência com os sinais de alarme, o que pode ocasionar sérios acidentes.

Efeito do ruído em plantas e animais
Segundo os zoólogos, as maiores dificuldades de adaptação dos animais ao cativeiro, decorrem principalmente do barulho artificial das grandes cidades.
Por outro lado, comprova-se que nos locais de muito ruído é mais acentuada a presença de ratos e baratas, agentes potenciais de transmissão de doenças.
As vibrações sonoras produzidas por motores de avião provocam a mudança de postura das aves e diminuição de sua produtividade.
Pesquisadores dos EUA, estudando os efeitos do ruído sobre as plantas, fizeram uma experiência com as do gênero Coleus, possuidoras de grandes folhas coloridas e flores azuis. Doze dessas plantas, submetidas continuamente ao ruído de 100 dB, após seis dias apresentaram a redução de 47% em seu crescimento por causa, segundo os cientistas, da estridência persistente, que as fez perder grande quantidade de água através das folhas.

http://br.geocities.com/poluicaosonora/curiosidades.htm

No país dos decibéis

"Será que o baixo crescimento da economianão seria o resultado do excesso de barulho?"

Ao fazer as malas para o Brasil, após quinze anos na Suíça e nos Estados Unidos, assaltava-me o temor de um choque cultural. Como a Batalha de Itararé, o choque não ocorreu, foi ajustamento instantâneo. Mas houve uma exceção: o choque dos decibéis.
Eu vinha de uma Suíça onde em muitos edifícios é proibido tomar banho e puxar a descarga após as 10 horas da noite. Os ônibus são silenciosos, e aviões barulhentos não pousam lá. Os cachorros não latem, e as crianças não berram. É proibido cortar grama aos domingos, por causa do barulho das máquinas. Lá eclodiu um célebre processo judicial contra os cincerros das vaquinhas que incomodavam um vizinho. Fiquei mal-acostumado, adquiri hábitos alienados.
Aqui estou, depositado no país dos decibéis. Ônibus e caminhões urram dentro da lei dos 88 decibéis máximos, quando na Europa a norma é 74 (sendo a escala de decibéis logarítmica, o volume de som é muitas vezes maior!). Muitos urram fora da lei. Uivam motos sem silenciosos. Os pneus cantam nas curvas. A cachorrada da vizinhança tem cordas vocais de aço-molibdênio. As igrejas e os cultos confundem decibéis com fé.
Ilustração Ale Setti
A obra-prima da agressão sonora são uns automóveis cujos porta-malas se abrem revelando uma bateria de alto-falantes, terrível usina de decibéis. Felizmente, algumas cidades turísticas estão comprando decibelímetros, para não perder clientes antiquados como eu.
As salas de aula não têm tratamento acústico. Parece até que foram planejadas para maximizar a refletância ambiente (as piores são as dos Cieps). A norma da ABNT para salas de aula estipula um máximo de 40 a 50 decibéis, mas o nível de ruído atinge 75 em casos comprovados. O ruído impede a atenção ou mesmo impede de ouvir o professor. Em quantos pontos faz cair o rendimento dos alunos brasileiros?
Nos restaurantes, a barulheira não está no cardápio, mas é parte do serviço. É como se o objetivo de manter uma conversação relaxada e inteligente fosse coisa subversiva, a ser impedida pelas múltiplas ressonâncias – amplificadas pelas superfícies lisas e paralelas. Um proprietário experiente disse que restaurante silencioso espanta clientes.
Parece que o choque de gerações se concentra nos decibéis. Na música, são o sonho de consumo, indo muito além dos níveis máximos das normas de saúde ocupacional. E, diante dos que reclamam, a polícia candidamente confessa não saber bem o que fazer nem qual unidade cuida do assunto. Ou, então, vai inspecionar no dia seguinte ao da festa.
O que menos me incomoda é a música das boates, apesar de ensurdecedora. É que, após uma experiência traumatizante, aprendi minha lição. Não entro nelas em hipótese nenhuma. Se lá dentro estivesse, de bom grado pagaria para sair.
Segundo os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS), 65 decibéis marcam o limiar do que faz mal à saúde – dependendo do tempo de exposição. Verificou-se que ruído excessivo aumenta a adrenalina, provoca alta de pressão, stress, insônia e (em Berlim) aumenta em 20% a probabilidade de infarto. Nos Estados Unidos, 10 milhões de pessoas perderam a audição (ou parte dela) por excesso de ruído – e parece que os números aumentam. Lá, o seguro-saúde é mais caro para quem trabalha em lugares barulhentos. Entre nós, quantos milhões convivem com muito mais decibéis do que a lei permite em fábricas? Uma banda de rock emite tantos malditos decibéis quanto uma turbina de avião (130 decibéis).
O ruído nas ruas, nas escolas e nos hospitais costuma estar acima do máximo da OMS. Será possível aprender em salas de aula tão ruidosas? Por que ignorar os males que faz à saúde? Será que o baixo crescimento da economia não seria o resultado do excesso de barulho? A sociedade não estaria sendo anestesiada ou hipnotizada por uma forma sinistra de conspiração sonora?
Manifesto a minha revolta auditiva contra um povo que confunde alegria com barulho. Parece que música alta libera hormônios, dando um "barato". Que seja. Mas o prazer de uns poucos não pode ser à custa do incômodo de outros. O som que me incomoda invadiu ilegalmente a minha privacidade. Temos o direito ao silêncio.
Claudio de Moura Castro é economista(claudiodmc@attglobal.net)